sábado, 26 de março de 2011

Um Rei Gago e Um Filme Manco

O Discurso do Rei, de Tom Hooper
por Eduardo Henriques
O Discurso do Rei (2010) conta a história verídica da luta do Príncipe Albert de Hannover, filho secundogênito do Rei George V da Inglaterra, contra a gagueira. De início, vê-se a submissão infrutífera aos tratamentos mais diversos da época que buscavam soluções para a dificuldade mecânica da produção da fala. A peripécia se dá quando, por meio de uma tentativa quase desesperada de sua esposa, o Príncipe acaba nas mãos de um excêntrico australiano que o põe de frente com os seus verdadeiros medos.

                           

Biografias e adaptações literárias para a grande tela do cinema estão na moda. Em verdade, são uma tendência vindoura. No caso de O Discurso do Rei, tem-se a fusão desses dois elementos adorados pela Sétima Arte. Para escrever o roteiro do filme, David Seidler inspirou-se no livro homônimo de Mark Logue. Logue nada mais é do que o neto de Lionel Lougue – o excêntrico australiano que ensina ao Príncipe Albert a como controlar sua gagueira. Utilizando-se de vasto material epistolar, trocado entre seu avô e o Príncipe da Inglaterra, Mark descreve a relação profissional e, principalmente, a amizade construída entre o ‘Royalty” e o plebeu.
Tom Hooper, diretor do filme, deixa bem claro desde o início que os 118 minutos servirão ao propósito de revelar essa amizade que foi de magna importância para a história da Inglaterra. Um homem comum tem o mérito da oratória daquele que conduziu uma nação inteira em meio aos bombardeios à sobrevivência durante a II Guerra Mundial. O filme com um roteiro linear, e aparentemente nada de extraordinário, acaba por crescer diante do expectador devido a sua carga emocional no momento em que se adentra nos temores de um homem que deseja viver uma vida tranqüila, junto com sua esposa e filhas, todavia tudo desmorona quando precisa tornar-se Rei.
  
 Albert, em uma  atuação brilhante do ator britânico Colin Firth, vive as angústias de um homem que tem em seu âmago a necessidade de esquivar-se da atenção pública e o anseio por viver sua vida de modo pacato e invisível. Contudo, seu pai é o monarca reinante do mais importante império do século XX - o Império Britânico -, e, desde a sua tenra infância, “Bertie” – como Albert era chamado em família – viu-se deixado de lado por seu pai e por sua mãe, a Rainha Mary de Teck. Sempre à sombra de seu irmão mais velho, O Príncipe-Herdeiro Edward (Crown-Prince), ele nutria invejava pela desenvoltura para fazer amigos e conquistar as damas, bem como para ludibriar os pais e os protocolos da Corte conseguindo experiências dignas de um “bon vivent” aristocrático. Era o gosto da liberdade o que Edward soprava diante de Albert e que ele nunca teve força o suficiente para agarrar.

Contudo, é justamente essa latente diferença na natureza do caráter entre os Príncipes o que acaba por traçar o destino de uma Inglaterra à beira da guerra com um país que ameaça a ordem mundial: a Alemanha. A película de Hooper mantém viva a chama da guerra por todo o desenvolvimento da trama, porém alguns detalhes que tornam mais ácido este capítulo da história da Grã-Bretanha foram abafados. O fato de a casa reinante na Inglaterra ser a mesma a mais que mil anos esconde o fato de que a partir da Rainha Victoria todos os reis ingleses eram de sangue alemão, haja vista que o marido daquela soberana era o Príncipe Albert de Saxe-Coburgo e Gotha, um legítimo germânico. As idéias iniciais e públicas de Hitler não iam de todo contra a ideologia do Príncipe Edward, por exemplo, que via na presença judaica crescente nos domínios da coroa inglesa como algo negativo.

                          













A figura da futura Duquesa de Windsor, a americana Wallis Simpson, se revela enquanto a representação de tudo aquilo que era considerado ultrajante à Realeza Britânica. George V, que tivera ele mesmo diversas amantes, não aceita o status conferido a uma “mulher de estirpe e moral menores” – como era descrita nos salões da corte – por seu filho e herdeiro. Eis mais um ponto desfavorável na pessoa do Príncipe Edward, tanto aos olhos de seus pais e monarcas quanto aos olhos do Parlamento e da elite política à época. Na medida em que a imagem do Príncipe de Gales (título de Edward enquanto Príncipe Herdeiro) se enfraquecia a imagem do frágil Duque de York (título de Bertie) crescia aos olhos do Estado. A morte de George V e o avanço das tropas nazistas sobre a polônia acabam por criar uma situação insustentável na política inglesa que mudou a vida dos dois irmãos reais para sempre.

                                           

           

Intercalando as curtas tomadas em que os destinos da Casa Real, da Inglaterra e das fronteiras européias se viam à beira de um colapso, tomadas mais longas e embevecidas de um humor nem sempre eficiente narram a história de Logan, vivido pelo ator Geoffrey Rush, e Bertie. Permeando a relação de protagonista (Firth) e coadjuvante (Rush) entre o “Príncipe gago” e o seu instrutor de fala, tem-se a insalubre atuação de Helena Bohan-Carter dando vida aquela a quem Hitler chamou de “a mulher mais perigosa da Europa”: A Rainha-Mãe. Elizabeth Bowes-Lyon rejeitou por duas vezes o pedido de casamento do Duque de York. Não queria estar atada à vida devocional dos Palácios, a pesar de viver na corte como filha de um conde galês. Quando a fragilidade de Albert deu sinais de seu progressivo afastamento da cena pública ela lhe deu o seu sim. A ela a Ingleterra deve a sua sobrevivência. Contudo, é a um roteiro pouco criativo e à uma atuação caquética e rasa da esposa do Tim Burton a responsabilidade pela irrelevância da personagem da Princesa de humor ríspido e simpatia comedida que por oitenta anos influenciou os rumos do Trono, seja como Rainha-Consorte seja como A Rainha-Mãe.

                      


Sem maiores explicações ou dados histórico-culturais, Hooper chega à necessidade moral da renuncia de Edward XVIII, rei por morte de George V, para contrair núpcias com Wallis Simpson – mesmo ela sendo casada e já divorciada. Pela primeira vez na história, um Monarca seria substituído ainda vivo. Várias foram as regências de Príncipes-Herdeiros quando do vislumbre da morte por seus reis, mas nunca um rei havia sido impelido a deixar o poder e repassá-lo a outro. Em um pronunciamento adornado de sentimento de dever Edward renuncia á coroa e aos ingleses, assumindo o título de Duque de Windsor e, pouco depois, deixando a Inglaterra às vias de guerra para viver nos Estados Unidos.
                
Tanto a sequência Elizabeth (1998) e Elizabeth: a era de ouro (2007), do diretor Shekar Khapur, quanto A Rainha (2006), de Stephen Frears, revelam, cada qual em seu contexto, o drama da simbologia monárquica para os ingleses. Na sequência de Khapur, vê-se a predestinação divina e a natureza gloriosa dos Príncipes em sua incontestável figura de dever para com seus reinos e de soberania absoluta para com seus países. Já no segundo, tem-se o drama de uma ideologia que não acompanhou a evolução do pensamento moderno e que se mostrou frágil ante a necessidade da mise en scène na sociedade do espetáculo, mas que redendo-se a isto teme perder sua essência e a sua relevância referencial para os seus súditos. Em O Discurso do Rei, tanto a crença no Direito Divino, vista na cena em que Logan se senta no Trono Real, na Abadia de Westminster, e um Albert ultrajado lhe reprova proclamando os mil anos de Dinastia que lhe conferem direito a sentar ali em detrimento de qualquer outro; bem como o pouco tato dessa Dinastia para as mudanças que a sociedade extra-palaciana lhe imprime, como no discurso de George V acerca da precisão de Bertie em falar à Nação por meio do rádio em substituição as marchas da Cavalaria Real que impunham respeito e conclamavam a dignidade do povo inglês para com os seus soberanos.

Mesmo podendo culminar em uma infinidade de “clímax” e arrojar um desfecho elegante, mas também perspicaz dentro das possibilidades de uma história verídica, Tom Hooper optar por um fim pouco inventivo. Albert tem, de fato, sua vida tragada pelas obrigações do ofício real e muda-se imediatamente para o Palácio de Buckinghan. A cerimônia da coroação é substituída por uma edição do vídeo oficial da mesma que trás, no final, uma espécie de reportagem sobre o aparato militar e os avanços nazistas no continente. O Primeiro-Ministro abdica e a figura do Rei ascende no imaginário popular como aquele que não permitirá que a nação seja invadida. Entrar em guerra com a Alemanha era inevitável. E conclamando todos os seus súditos, ao longo de todo o Império Britânico a unirem-se e terem Fé em Deus e em si mesmos, George VI, o jovem Bertie, se lança das sombras para a História.


Por Chérie *-*

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Black Swan (Cisne Negro)


Esse será o tipo de filme, que se comentará durante anos. Mas, não por apenas se direcionar a arte, e sim por desenvolver questões psicológicas, capazes de deixar qualquer um estarrecido. Natalie Portman, apresentou uma excelente desenvoltura ao interpretar uma bailarina psicótica, que é provável que lhe renderá  o papel de melhor atriz no oscar deste ano, pois sem dúvida alguma, foi o melhor papel de sua carreira. Ao todo, o filme conta a história de Nina, uma bailarina que substitue uma antiga dançarina (Winona Ryder) como a rainha dos cisnes, na famosa obra do compositor Tchaikovsky.

Porém, o que deveria ser o seu grande triunfo, tornou-se um verdadeiro calvário, quando Nina se viu pressionada ao interpretar o cisne negro. Por ela ser introvertida, encontrou uma grande dificuldade em trazer toda a sedução do cisne negro em sua performance. Só que não era nenhuma dificuldade para Lilly (Mila Kunis), a sua rival, que tinha todos os atributos para o obscuro cisne, pois ela possuía característas marcantes e dissimuladas, podendo ser até insolente. A pobre Nina, se vê em um verdadeiro conflito interior, sem mencionar a excessiva proteção de sua mãe, que a controla como uma marionete e também a sua conturbada relação com diretor artístico, que é extremamente perfeccionista.

Darren Aronofsky, não poupou esforços ao unir o belo universo do ballet com uma história fantástica e intensa, que aterroriza até as mentes mais bem conceituadas. É um roteiro muito original, que trata de uma obssessão destrutiva e incontrolável pela busca do visual, do ser perfeito. A parte técnica é indiscultivelmente incomparável, quando vemos os movimentos precisos de um ballet que segue a coreografia do Bolshoi. O que foi muito bem colocado durante o filme, é a questão de muitos pais que tem os seus sonhos interrompidos, os transferirem para os seus filhos, como uma justificativa por não ter ido até o fim do seu objetivo. Isso transforma-se em uma situação deprimente e sufocante, podendo levar até a insanidade.

Portanto, o Cisne Negro, é digno ser ovacionado, pois é delicioso de ser visto e totalmente deslumbrante em todos os sentidos. Ele tem o poder de envolver o espectador de um jeito sedutor, com a sua perspicácia de desenvolver duas personalidades distintas, a pureza do cisne branco e a luxúria do cisne negro. É uma contradição de dois lados, que quando separados, se tornam surpreendentes em toda a sua beleza. Como diria George Bernard Shaw, "a dança é uma tentativa muito rude de penetrar no ritmo da vida", o que no filme é mostrado com a mais total clareza, vale à pena conferir essa arte cinematográfica.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ponto de Vista


Qualquer análise crítica depende de se decompor o objeto estudado e expor o pensamento embasado em resultados técnicos. São fartas as críticas abalizadas a arte cinematográfica. Mas como todo bom brasileiro não me furto em opinar, deixo de lado o perfil científico da análise e da necessidade de conhecimento para tal. Aventuro-me a um roteiro com uma visão pessoal acerca do filme The Social Network (A Rede Social). Para quem não assistiu [certamente foram poucos] ele conta a história da fundação do website Facebook.

O filme A Rede Social foi desenvolvido em 2009 e em setembro de 2010 já estava finalizado. O tema e a história, largamente divulgados, roteiriza mais uma entre tantas histórias de sucesso decorrente do talento e da inovação tecnológica. Insípido em emoções, não deixa marcas que possam persistir pós-filme. A quase inexistência da entrega dos atores, ou talvez, a ausência da densidade na construção das personagens, contribuem para que The Social Network se situe no patamar do filme que funciona.

A ideia a se considerar é que a produção investiu numa bem sucedida campanha mundial de marketing do website Facebook.  Assim, The Social Network fez-se alvo para efeitos conversivos e ‘oscarizado’ [perdão pela inovação linguística].

A título de ilação vamos então lembrar da última cena. O filme termina com Mark mandando um pedido de amizade para sua antiga namorada, Erica, via Facebook atualizando a página e esperando por uma resposta.

Yoshi

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ignora

É sempre tão difícil falar sobre o amor.
Talvez, por isso mesmo, nós simplesmente o ignoramos.
Logo ele, que está sempre entre nós.
O dia-a-dia...
a rotina...
Essa maldita rotina
Nos faz lembrar de coisas inúteis
E nos faz esquecer do mais importante.
Quantas vezes não respondemos a um “Bom dia”
Por estar de mal humor
Ou por simplesmente não querer prestar atenção.
Quantas vezes alguém faz algo especialmente pra você
E você ignora.
Alguém quer comentar
Qualquer besteira que aconteceu na sua maldita rotina.
Você ignora.
Isso em relação a todo mundo.
Família, amigos, namorado.
Você ignora. Você os ignora.
Algum amigo lhe chama para fazer qualquer besteira.
Você ignora.
Você não só ignora as pessoas.
Você ignora o amor que existem nelas,
O amor que elas tem por você.
E é isso que acontece quando a gente se acomoda no dia-a-dia.
Milhares de “ignoras”
E quase nenhuma atenção ao amor.

Será que Tem Definição?


Cada dicionário tem a sua, mas se olharmos como um todo é sempre uma definição com palavras abstratas. Os cientistas tentam desvendar de onde vem e como surge, mas pergunto eu: Será que alguém consegue defini-lo sem ao menos ter conhecido?

Ele vem simplesmente do nada, aparece da forma mais linda, no gesto mais ingênuo, arrebatador como um furacão. Têm várias formas cada qual com a mesma intensidade. Acontece entre um casal – Sem definição de ser um casal hetero ou homo – O importante é que ele esta ali transformando a vida de ambos.

Também ele aparece entre, amigos, irmãos e no maior e mais fiel de todos que é o entre Mãe e Filho (a). Esse por mais que ambos os lados se chateiem, briguem, gritem ele se mantêm firme, pois nesse caso o sentimento é divino, é algo que nada se equivale, se supera.

Alguns conseguem comprá-los seja lá com fama ou dinheiro. Mas com o tempo se deteriora e se transforma em um vazio que dinheiro algum consegue preenche-lo. Às vezes é tão grande, tão forte que leva as pessoas a fazerem coisas que fogem da realidade e com isso trás sérios problemas, algo que deveria ser incrivelmente bom muda para algo totalmente autodestrutivo. Por isso você que esta na estrada desse sentimento siga sempre com os pés no chão, não corra e nem coloque os bois na frente do carro. Aproveite as paisagens. E o principal aproveite 100% quem esta ao seu lado nessa verdadeira aventura.

E como nada nesse mundo é fácil ele também é nenhum pouco, e se fosse fácil qual seria a graça de conquistá-lo? Muitas vezes temos que insistir, brigar, dar o nosso sangue. Tem momentos que dão certo em outros nem ao menos somos notados. Mas quando conseguimos o nosso dia fica mais engraçado, seu mau humor matinal não existe e nem seus créditos e/ou bônus (Sei bem como é isso).

Brigas acontecem, pessoas ficam magoadas. Mas ele é tão maior que logo apos tudo isso esquecemos rápido e nos desculpamos. Não importa quem esteja certo ou errado em algum momento alguém tem que ceder. E reconciliações são sempre emocionantes, ali o verdadeiro sentimento se mostra na sua essência, pois um lado se mostrou disposto a se arrepender do erro e ou outro a perdoar... Ou Não.

Sei que este singelo post não expressou tudo o que ele é, nem ao menos chegou a 0,0001%, mesmo assim pergunto a você: Será que o Amor Tem Definição?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

It's you, bitch!

O amor
pra mim
acorda de mal humor
todo dia.
Reclama do ovo cozido.
Muito cozido.
É orgulhoso e teimoso.
Muito teimoso.
Quebra todos 
os fones 
de ouvido.
Tem lindas
sardas
nos ombros,
nas bochechas 
rosadas.
Ri aquele
sorriso
que só a gente ri
das nossa palhaçadas.
Que só a gente faz.
Que só a gente entende.
O amor
pra mim.
É meu maior motivo.
Pra voltar, 
toda noite.
De sentar e ver.
De deitar e ler.
De ouvir e sentir.
Que quando ela ronca.
É porque o sono está bom.
Então durmo eu tranquila.
A esperar a muganga.
Da manhã seguinte.
De todas as manhãs.
De todos os dias.
Por 
todos
esses
anos.
Pelos que foram.
São.
virão.
Desse amor.
Que eu sei.
Que é.
Só pra mim.

Por: It's me, bitch!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Amor

Poemas como os de Pablo Neruda encanta, há neles uma forma apaixonada de amar.  O amor romântico idealiza a pessoa amada. Hoje, vivemos um momento de busca do crescimento individual onde cada um escolhe como viver a realidade conectada a uma visão pessoal e perceptível, que apesar de não ser nociva, penaliza os sentimentos que ainda temos dentro de nós e pelo qual sofremos...


Yoshi

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Eu, eu mesmo e... Ninguém


Insistentemente, perduro sentindo a solidão existencial a habitar cada glândula sanguínea que percorre o meu sistema vascular banhando milímetro por milímetro da minha massa corpórea. Algo como um fungo a recobrir toda a capa superior outrora crocante do pão francês esquecido na tigela de louça pintada não sei há quantas gerações passadas.
Quem é essa que persiste em “co-ser-me”?
De fato, tal sensação faz-me fixar raízes em minha inconsciente e incoerente adolescência. Sim. Um misto de “inco’s” que apenas trazem à baila inconsistência de um ser que não se consolidou. Nunca pôde escrever sua existência com um ‘ese’ maiúsculo: Ser. Essa famigerada solidão existencial - em cuja literatura oitocentista, e mui fortemente no oitocentismo inglês, já tanto se tratou e retratou - jorrou em minha adolescência como o sangue de uma criança inocente morta com um golpe de foice em sua aorta jugular para sagrar um sacrifício humano a alguma divindade nada divina. Por mais que houvesse mudanças, pessoas, música, silêncio, luz, escuridão, brilho, opacidade... Tudo se resumia a uma única sensação: vazio. De todo o tempo em que estive co-habitando este corpo junto à Solidão Existencial, lembro-me torridamente das “crises” que vivi aos 15, aos 18 e aos 19 anos. Nada me fazia sentir que haveria um sol luzente e grandioso por detrás daquelas nuvens trovejantes que, na verdade, eram apenas eu mesmo.
Essa ligação com a adolescência não me causa plena estranheza, mas também não me é sutil. Não sei o porquê, mas ela parece preferir aqueles como menos de 21 anos. Quando os sintomas da solidão existencial se manifestam em alguém cujo adjetivo literário mais ajustado é “Balzaquiano”, chama-se depressão e não de solidão ou soledade. Não que os adolescentes não estejam sensíveis à depressão, mas nem toda sensação de solidão, tristeza profunda desamparo e desespero velado é depressão. Pode ser apenas, solidão - autosolidão! E dada à recorrência, vejamo-la como uma enfermidade do ser – e não do Ser.
Lembro-me de umas férias que tive a cerca de dois anos atrás. Mamãe gozava das dela também naquele mês, porém minha irmã caçula seguia em aulas. Ambas faziam barulho. Brigavam, brincavam, gargalhavam. Tudo me era indiferente. Não me atinha a nada. Minha atenção, por vezes, desapercebia-se delas. Olhava, mas não via. Percebia, mas não sentia. E nem queria. Dados momentos, a solidão existencial consiste em um autismo velado e construído por nós mesmos a fim de nos pormos distanciados do que não queremos perto de nós, porém fisicamente não conseguimos repelir. Assim, estamos sem estar naquele ambiente físico que desprezamos. A mente é a maior das criações – #Inceptionfeelings.  
A mente detém o poder de manter o corpo no chão e os pensamentos no mundo! Eu posso abrir a varanda e enxergar a Place De La Concorde, a Floresta Negra, a Baía de Guanabara, a Praça de Sãò Pedro ou o Vale d'Ouro. Os olhos vêem aquilo que nós os mandamos ver. Olhar é somente olhar. Podemos ver o que temos dentro de nós mesmo olhando para fora de nós. Quando não se pode falar, fez-se silêncio.  Quando sua voz é o silêncio, a sua solidão já é sua inquilina permanente. Eu falo em silêncio. Meu grito ecoa no vácuo e meu coração já não chora mais, sangra sonhos esquartejados pelas convenções limitadoras do mundo contemporâneo.
O que ou quem nos impôs que a sanidade é saudável e a loucura é patológica? E quem definiu a loucura e a sanidade? Se “Ser são” é ser mais um bailarino no espetáculo da alienação do pensamento, eu prefiro trocar a imagem sem essência criada pelas palavras e viver a própria essência das coisas. Palavra e existência se diferem, como defende Nietzsche, por ser a palavra uma criação do homem para manipular o existente a sua maneira, privando das palavras - pois só assim seu poder sobre ela seria possível - a verdadeira essência da existência. Um lápis só é um lápis quando não está escrito, mas sim quando escreve. Eu quero escrever e não ser o já escrito.
Não estou certo quanto a clareza do que estou escrevendo aqui. Coerente? Plausível? Minha mente está fatigada pela existência em terreno infértil e bélico. Minha respiração está pesada. Uma simples mudança na temperatura e eis que o meu pobre peito asmático já sufoca em seu esforço por ar. Eis uma ironia. Enquanto esforço-me para que a vida - a vida enquanto palavra fruto do homem e sua definição igualmente construída pelo homem – cesse, meu peito luta vorazmente por manter-me vivo, mesmo que isso lhe custe um esforço mortal e, metaforicamente, asfixiante.  
 Quem realmente vive a plenitude da vida, a vida existencial, Holly ou Paul? Quem sabe algum dia nos chegue uma resposta do Capotte.
Na vastidão vã da solidão empanturrada de irracionais razões de existir, segue-se um corpo duplamente habitado. Imerso em si e em seu nada – um nada ora niilista ora meramente ‘nadista’. Asfixiante, asfixiando, asfixiado segue. No exercício da pseudo-existência nas convenções sociais devotadas às horas que antecedem o jantar familiar descaracterizado e hipócrita do século XXI, têm-se mais um passo. São múltiplas sucessões nada heráldicas, nada nobilitarias.
Cansei-me deste século, mas ainda não consegui uma forma de regressar permanentemente aos tempos de atrás. Uma forma de me prender em algum lugar do passado... Seria lá menos solitário?
Salut!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Relatos sobre o amor



O amor é um dos ciclos da vida  mais vicioso, do qual jamais conseguimos fugir. Ás vezes, o amor pode começar de uma forma estranha, sem você sentir, mas quando observares, perceberás que já estás preso ao sentimento. O amor também é injusto, porque tu não podes escolher a quem queres amar, apenas amas o mais imprevisível. Amar tem a sua beleza, mas possui as suas injúrias, pois tantas vezes ele termina em tragédia, e ele de tão insistente nunca permite que tu deixes de amá-lo loucamente, afinal esse nobre sentimento é movido de esperança. Por momentos, ele faz com que prometamos o mundo a quem amamos, mas no final, não cumprimos o que juramos.
O amor também, nos faz de bobos, porque perdemos o nosso raciocínio lógico, ele faz com que deixemos a razão de lado, pra seguirmos apenas, com o coração. Quando nos entregamos, desenvolvemos um novo sentimento, o altruísmo, pois ele move todas as nossas direções ao ser amado, porque você prefere que a pessoa que ama seja a mais feliz, mesmo que você passe o resto dos seus dias na mais pura infelicidade. Veja, como ficamos sem saída, e um sábio já nos disse, que "amar é sinônimo de sofrer",  mas mesmo assim, o que importa? Possa ser que sangremos no final, só que nunca deixamos de amar, porque o ser humano necessita de alguém a quem possa direcionar os seus sentimentos.
 Eu posso falar do amor que tive, ele extraiu todas as minhas forças, dele eu derramei as mais sofridas lágrimas, dele eu deixe de viver e de sonhar, mas mesmo com tanta dor que ele me causou, eu ainda consegui remanecer nele, penso nele como uma droga que eu nunca poderei me curar. Outra coisa interessante sobre o amor, é que você só ama verdadeiramente, uma só vez. Amor é sacrifício, é dor, é ternura, é encher a sua alma de poesia, pois tu consegues desenvolver as mais belas palavras jamais escritas.  

Mas, se não existisse esse sentimento, eu não saberia que sou humana, as músicas não seriam desenvolvidas e acho que o céu não seria tão estrelado a noite. Por fim percebemos, que é do amor que tiraremos as mais preciosas lições, para que um dia possamos nos entregar novamente a ele sem uma única culpa, e poder fechar esse ciclo impetuoso.




sábado, 5 de fevereiro de 2011

... O Deus Criou, oras!

E no início era o veneno.

Deus saboreou e sentiu que era bom

E Deus disse ao veneno:

"Multiplicai-vos!"

E no quinto dia do princípio da Criação, da espuma do veneno da morte, tragado através de um cálice de injúria, deu-se o nascimento dos OB-Secados, cuja imaginação oferta-se nos mercados em tamanhos pequeno, médio, grande e/ou EXTRA-GRANDE.

Interno ou com abas, sinta-se introduzido!